terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

Morreu Umberto Eco, um "companheiro de estrada" da Banda Desenhada

Falecido no passado fim-de-semana, Umberto Eco, conhecido pensador contemporâneo e romancista, teve o mérito de ter levado a Banda Desenhada para a Universidade.

Ao longo da sua vida, em muitos dos seus ensaios, abordou várias vezes a Banda Desenhada como temática dos seus estudos, sendo um entusiástico defensor das qualidades intelectuais e artísticas da 9ª Arte.

Na sua importante obra de semiótica,"Apocalíptico e Integrado", editada em 1964 e uma referência nos estudos sobre a comunicação de massas, dedicou um espaço importante à análise da Banda Desenhada, à qual dedicou três capítulos fundamentais: "Leitura de Steve Canyon", sobre a emblemática obra de Milton Caniff, com um sub capítulo intitulado "A Linguagem da Banda Desenhada" e onde aborda também outra série como L'il Abner de Al Capp; "O Mito de de Superman", onde fala igualmente da série Batman; e "O Mundo de Charlie Brown", a sua série preferida.



Ao longo dos anos analisou nos seus textos muitas outras séries e autores  de BD, como  Jules Feifer, Mafalda, Fritz o Gato, Siné, Claire Bretecher ou Corto Maltese, de cujo autor,o já falecido Hugo Pratt, era amigo pessoal.

Uma faceta pouco conhecida é a sua participação como co-fundador da prestigiada revista de BD italiana "Linus", onde se revelaram na Europa grandes autores como os italianos Hugo Pratt e Guido Crepax ou os argentinos Muñoz & Sampayo e onde colaborou George Wolinski.



A BD foi igualmente o tema principal do seu romance "A Misteriosa Chama da Rainha Loana", no qual os personagens recuperam a memória graças às suas recordações das leituras de séries de BD, numa homenagem a heróis como Flash Gordon ou Mandrake.



Conta-se como anedota que, certo dia, para mostrar o cinismo e o preconceito com que os seus colegas da Universidade encaravam a sua abordagem ao mundo da Banda Desenhada, deixou, propositadamente "esquecidos", na sala de professores, vários volumes da série "Super Homem",da sua vasta colecção particular de BD, livros esses que desapareceram rápidamente, mostrando que os seus colegas também tinham interesse pela leitura de séries de BD e desmontando assim a atitude preconceituosa que eles tinham pela 9ª Arte.

A 9ª arte deve assim a Eco o tê-la colocado como tema de estudo na Universidade, contribuindo para a tornar uma arte ao nível das outras artes.

(Fonte:Site "ActuaBD")