terça-feira, 13 de novembro de 2018

Morreu Stan Lee, o argumentista que tornou os super-heróis humanos


Stan Lee  nasceu em Nova Iorque como Stanley Martin Liber, em 28 de Dezembro de 1922, filho de imigrantes judeus da Roménia, falecendo ontem, dia 12, em Los Angeles.

Filho de um alfaiate, viveu em relativa pobreza, juntamente com os seu irmão Larry, nascido em 1931, vivendo num bairro pobre do Bronx.

Começou a trabalhar muito cedo, em trabalhos esporádicos, escrevendo obituários em jornais, vendendo sanduiches ou como arrumador num teatro.

O seu grande sonho era tornar-se romancista, mas enveredou como argumentista de “comic’s” quando o seu tio Robbie Solomon lhe arranjou trabalho na efitora Timely Comic, a antepassada da Marvel.

O seu primeiro trabalho foi um conto ilustrado por Jack Kirby (1917-1994), intitulado "Captain America Foils the Traitor's Revenge" , publicado em Captain America Comics #3 (de maio de 1941).

Foi então que adoptou o pseudónimo de Stan Lee, pois ainda sonhava com a carreira de romancista e não queria ver o seu nome associado à Banda Desenhada, género então considerado desprestigiante. 

Mais tarde, já nos anos 70, acabou por alterar legalmente o seu apelido para “Lee”.

Nos finais de 1941, apenas com 19 anos, foi nomeado editor interino da Timley Comic.

Entretanto, com a entrada dos Estados Unido na 2ª Grande Guerra, ingressou em 1942 nas Forças Armadas, na área das comunicações e escrevendo panfletos de propaganda.

Terminado o conflito regressou, em 1945, à Timley Comic, que mudou o nome para Atlas Comic.

Para essa editora escreveu histórias de vários géneros, do Western à Ficção Cientifica, do terror ao humor.

Em 1950 juntou-se ao desenhador Dan De Carlo (1919-2001) e iniciou a publicação de uma “tira” de jornal intitulada “My Friend Irma”, baseada numa comédia radiofónica.

No final dessa década, numa altura em que pensava abandonar a BD, foi convidado a responder ao desafio da editora rival, a DC Comic, que criou a “Liga da Justiça”, recuperando velhos heróis com o Super-Homem e Batman, tornando-se um grande sucesso editorial.

Lee juntou-se ao desenhador Jack Kirby e responderam ao desafio criando, em Novembro de 1961, o “Quarteto Fantástico”, o mesmo ano em que a Timley adoptou o nome de  Marvel Comic.

O êxito da série relançou a empresa, e nos anos seguintes o talento de Lee e dos desenhadores da Marvel viu nascerem mais séries que se tornaram icónicas no universo da agência:

Em 1962 cria, com o recentemente falecido (em 27 de Junho) Steve Ditko (1927-2018) o “Homem Aranha”  e com Kirby “O Incrível Hulk” e “Thor”.

No ano seguinte junta um novo conjunto de super-heróis , “O Home de Ferro” e “X.Men” com Kirby e “Doutor Estranho” com Ditko.

Em 1964 acrescenta a esta galeria que vai conduzir a Marvel ao êxito, a série “Demolidor” com Bill Everett (1917-1973).

Em 1972 Lee torna-se dono da Marvel e ao longo da sua vida criou mais de 300 personagens.

Muda-se para a Califórnia em 1981 para acompanhar a produção de filmes para a TV e para o cinema baseados nos personagens da Marvel, a maior parte criados por si.

É aliás nesta década, em 1988, que se dá uma das mais improváveis colaborações. Numa feira do livor de uma cidade da Califórnia Lee conhece Moebius, aliás Jean Giraud (1938-2012), um dos mais conceituados criadores da Banda Desenhada franco-belga, como a série Tenente Blueberry ou, como “Moebius”, várias BD’s de ficção científica, sendo igualmente fundador da revista Metal Hurlant, e com ele lança a série “Surfista Prateado”, editada nesse mesmo ano.



Lee, em conflito com a Marvel pelos direitos de autor, colabora com a rival DC Comics em 2001, ao mesmo tempo que fez breves aparições nos cerca de 40 filmes produzidos com base nos personagens que criou.






Lee, muito imbuído no espirito da década de 1960, o período do auge da sua carreira na BD, introduziu nas suas séries um carácter mais humano, filosófico e político nas histórias que escreveu, afastando o mundo dos super-heróis das características  mais infantilizado e por vezes reacionário que caracterizavam o género.

Ainda de falecer, ontem, em Los Angeles,  deixou filmadas cenas onde vai aparecer nos próximos três filmes ainda por estrear com heróis da Marvel (“Capitão Marvel”, “Vingadores 4” e “Homem-formiga e a Vespa”).

Stan Lee revelou a importância de um elemento geralmente secundarizado no mundo criativo da banda desenhada, o argumentista.

Stan Lee foi o argumentista que aproximou os super-heróis do lado humano.

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