Benjamin Rabier, conhecido ilustrador francês e um dos pioneiro da
Banda Desenhada francesa tem uma exposição a decorrer em Lisboa, no Museu
Bordalo Pinheiro até 15 de Setembro
Benjamin Rabier nasceu na pequena localidade francesa de La
Roche-sur-Yon, em 30 de Dezembro de 1864.
Apenas com 15 anos recebeu o Prémio de Desenho da Cidade de Paris, mas,
de origem modesta, foi obrigado a interromper os seus estudos para trabalhar.
Foi empregado bancário, desenhador de ilustrações militares, perceptor
nos Halles e até dançarino acrobático no Novo Circo de Paris.
Começou a trabalhar profissionalmente como ilustrador em 1889 na
revista Le Gil Blas Illustré, editada pelo conhecido Caran d’Ache.
Trabalhou depois em várias revistas como ilustrador e autor de algumas
das primeiras bandas desenhadas francesas: La Caricature (1895); Le Pêle-Mêle;
L’Illustré National (1898-1914); Le Bom Vivant (1899-1910); La Jeunesse
Illustrée (1903-1919); Le Jeudi de la Janesse (1904-1914) e Fantasio
(1906-1907).
Foi na “Le Pêle-Mêle” que começou o tipo de ilustração que o tornou
famoso, o uso de animais como personagens principais das suas histórias
desenhadas, dando inicio a uma tradição na BD franco-belga de usar figuras de
animais.
Rabier publicou o seu primeiro álbum de desenhos animais em 1895,
Jeannot sans Peur, dedicando-se exclusivamente na edição de livros para a
infância a partir de 1906, ano em que ilustrou uma edição das Fàbulas de La
Fontaine.
Em 1907 fundou a revista Histoire Comique et naturelle des animaux, que
teve uma edição de 31 números.
Durante a Primeira Guerra, perante a crise da edição de livros
infantis, associou-se a Emile Cohl, pioneiro do cinema de animação e começa a
dedicar-se ao este género cinematográfico.
Quando a guerra acabou, separou-se de Cohl e iniciou a sua própria
produção, inventando um novo sistema de produzir filmes de animação.
Entre 1923 e 1930 dedica-se a escrever peças de teatro para o
vaudeville, no Bataclan e no Dejazet de Paris.
Em 1923 criou a sua mais importante personagem de BD, o pato Gédéon, animal
“inteligente” e emancipado, editando 16 albuns com essa personagem até 1939.
Trabalhou também em publicidade, tendo sido o autor da célebre “Vaca
que Ri” que ilustra os produtos de uma conhecida marca de queijos.
Rabier é justamente cognominado como o “La Fontaine da Banda Desenhada”,
pioneiro da chamada Banda Desenhada Animalista, que influenciou vários autores
como Edmond Calvo (1892-1957), autor de
La Bête est mort, com argumento de Victor Dancette, publicado depois da libertação,
que conta a História da 2ª Guerra tendo como personagens animais humanizados,
ou como Raymond Macherot (1924-2008), autor de “Clorofila” (em 1954) ou, na
actualidade, a série Blacksad, criada em França
em 2000 por dois autores espanhóis, Juan Dias Canales (escritor) e
Juanjo Guarnido (desenhador), isto apenas para falar em dois dos casos mais
conhecidos do uso de animais como fábulas da vida humana em BD.
Benjamin Rabier faleceu em 1939.
Ora, foi este Benjamin Rabier que o escritor português Aquilino Ribeiro (1885-1963) conheceu em Paris e convidou para ilustrar o seu Romance da Raposa (1924), a partir de
fábulas que escreveu para o seu filho mais velho.
A principal personagem dessas fábulas é
a Raposa Salta-Pocinhas, também adaptada a uma série de cinema de
animação que passou na televisão portuguesa.
Essa série de animação foi produzida pela Topfilme, o primeiro estúdio de animação criado em Portugal em 1973, por Artur Correia e Ricardo Neto.
A série de animação baseada na obra de Aquilino foi exibida na RTP entre 22 de Outubro de 1988 e 14 de Janeiro de 1989, com adaptação de Marcello de Moraes e diálogos de Maria Alberta Menéres, sendo adaptada à Banda Desenhada em 2009, por Artur Correia (1932-2018) e editado pela Bertrand.
A obra de Aquilino foi editada inicialmente para editora Aillaud, editora
francesa que então pertencia Bertrand e que, em 1924, aproveitando a estadia de
Aquilino em Paris, o pôs em contacto com aquele ilustrador.
Os desenhos de Rabier para esse livro pertencem ao espólio dos
descendentes do escritor e podem agora ser vistos na exposição do Museu Bordalo
Pinheiro, no topo norte do Campo Grande, a seguir à Lusíada, até 15 de Setembro.
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