quinta-feira, 6 de março de 2025

A Banda Desenhada nos Muros de Bruxelas

                                                   

Nos finais de Fevereiro, percorrendo as ruas de Bruxelas, ora na companhia da minha filha, ora sózinho, consegui fotografar alguns dos murais dedicados à BD franco-belga, de entre dezenas espalhados pelas ruas da cidade. Aqui fica uma pequena mostra, começando pelo mais conhecido, com o qual me cruzei dezenas de vezes, já que a minha filha mora nessa rua. Este primeiro é dedicado ao TinTin, criado por Hergé em 1929. Inaugurado em 2005, este é dos frescos mais antigos, e fica na Rue de l'Étuve, 37, mais conhecida pela rua do Manneken Pis. Reproduz uma cena do album "O Caso Tournesol, de 1954.

Este mural fas referência à série flamenga Kinsky & Cosy, criada na língua original do autor Nix em 2001, traduzida para francês em 2005. A série, pelo seu original humor,  deu origem à sua reprodução em cinema de animação, com divulgação mundial. Fica na Rua des Bogards.

Uma homenagem, com recurso a alguns personagens da BD, aos hábitos belgas, a decorar a fachada do famoso restaurante HoutSiplou, na Paraça Rouppe .Existem também vários frescos pintados no interiro desse espaço.

Este fresco, dedicado a "Monsieur Jean", dos autores franceses  Philipe Dupuy e Charles  Berbérian, criação de 1991, obra pioneira da chamada novela gráfica, numa aproximação literária da 9ª arte, está situada na Rua des Bogards, uma homenagem ao ambiente urbano de Bruxelas.

Situado quase em frente ao icónico Manneken-Pis, este fresco homenageia a série "Olivier Rameau" criada em 1968 por Dany, com argumento de Greg. Fica na Rue du Chêne, encostado a uma loja de venda de albuns musicais, em vinil e noutros formatos.

Este fresco é uma obra colectiva, dedicada à comunidade LGBTQIA+, da autoria da artista grega feminista  Fotini  Tikkou e do autor alemão, dedicado à BD de temática gay, Ralf Koning. Foi realizado em 2015 e ocupa uma grande parte da pequena rua  da Chaufferette, perto da rua du Midi.

Esta foi a primeira pintura mural dedicada à BD em Bruxelas, realizada em 1991. A série homenageada é pouco conhecida por cá, as aventuras de Broussaille, publicadas pela primeira vez no jornal Spirou em 1978, desenhada por Frank Pé e com argumento de Bom. Recorde-se que a revista Spirou ainda se edita. Na semana em que percorremos as ruas de Bruxelas à procura daqueles murais, era editado o nº 4532 dessa famosa revista de BD. Aquela mural fica numa das ruas mais concorridas, perto da Grand Place, a Rua du Marché de Chabron.

Embora tenha andado por ruas próximas, encontrei este mural por puro acaso. É uma homnagem a uma das séries mais famosas, uma das minhas preferida na juventude, Ric Hochet, um jornalista de investigação policial, com argumento de André-Paul Duchâteau e desenho de Tibet, criada em 1955. Este fresco acabaria por ser integrado numa aventura daquela série, "Le trésor des Maroles", editada em 2006, um caso único na história desses frescos. Este fica situado na Rua du Bon Secours.

Um mural de homenagem a uma das séries de maior duração editadas pela Lombard, Victor Sackville, um espião inglês da Primeira Guerra Mundial criado por François Riviére e Gabrielle Borile, desenhada por Francis Carin. Encontra-se na já citada rua du Marché au Charbon.

Este mural, na movimentada Praça Saint-Gery homanageia a série flamenga Néron, criada em 1947, inscrita no Guiness Book como aquela que teve maior duração, 217 albuns publicados, sempre desenhada  por Marc Sleen (aliás, Marcel Neels) até à sua morte em 2016, com a idade de 93 anos

Fresco de homenagem à mais famosa série flamenga de BD, "Bob & Bobette", criada por Willy Vandersteen em 1945. O Mural é um dos mais antigos, pintado em1995, na Rua de Laeken. 

No angulo das ruas aux Choux e du Canon este fresco tem origem numa novela gráfica "Les Crocodiles", nascida do "Projecto Crocodilo"  lançado na internet em 2013 por Thomas Mathieu e Juliette Boutant.

Na rua Notre-Dame des Grâces, onde se apanha o elevador para o mastodontico e sempre em obras Palácio da Justiça, fica este fresco de uma das séries mais famosas de sempre, Spirou, criada em 1938 por Rob-Vel, mas que atingiu a sua plenitude com Jijé e  André Franquin. Este fresco foi imaginado por dois outros continuadores da série, Fabien Vehlmann e Yaan, inaugurado em 2014. Imaginaram uma cena passada no "Marché aux Puces", uma espécie de feira da ladra no centro do popular bairro das Marolles.

Fresco evocativo da "Patrulha dos Castores", série de escuteiros inventada pelo autor natural de Bruxelas Michel Tacq (Mitacq) e com argumento do famoso Jean-Michel Charlier (Blueberry, Buck Danny e muitas outras séries), publicada pala primeira vez no Spirou em 1954. Na rua Pieremans, nos Marolles, a caminho do famoso "mercado da ladra" de Bruxelas. 

Este é um dos murais mais famosos, dedicado à série Blake e Mortimer, criada em 1946 por Edgar Pierre Jacobs, e ao seu album mais famoso, "Marca Amarela", de 1953. Já existiram outros dois murais iguais a este, noutros pontos da cidade, destruidos por projectos imobiliários. Este fresco foi inaugurado em 2021, na Rue du Temple, perto do bairro do Maroles e próximo do local onde Jacobs nasceu. Foi o mais dificil de encontrar, não só porque tinha como referência o sitio anterior, quase no outro extremo da cidade, embora tenha passado por ele várias vezes, sem o ver. Está escondido entre dois prédios naquela rua

Este foi o primeiro fresco realizado por um autor francês, Yves Chaland, falecido apenas com 33 anos, mas que relançou a chamada "escola da linha clara" com a sua série "Le Jeune Albert", um anti-herói criado para o magazine  "Métal Hurlant" em 1980, e que caricaturava e homangeava os grandes criadores belgas da "linha clara", como Jijé, Franquin ou Hergé. Neste fresco da rua des Alexiens, evoca-se a vida de Bruxelas nos anos 50.

As referências à BD franco-belga ultrapassam a centena de fresco e estatuetas, espalhadas por toda a cidade de Bruxelas e arredores. O que aqui publicamos é uma pequena amostra. Estes frescos começaram a ser pintados na última década do século XX, inicialmente apenas dedicados aos autores de Bruxelas, mas rapidamente a sua temática foi alargada a toda BD. Alguns desses frescos vão desaparcendo com o tempo, outros foram transferidos para novas zonas, alguns sobrevivem ao passar do tempo e continuam a ser restaurados.

Um bom motivo para percorrer as ruas de Bruxelas, principalmente o seu centro original, já que, urbanisticamente, muito da antiga Bruxelas foi destruida por projectos discutiveis e que têm sido motivo de muita contestação por parte dos seus habitantes.

(proposta de percurso disponivel on-line em www.parcoursbd.brussels)

(Fontes : - Bruxelles, capitale de la BD, ed. Visit.Brussels, 2024;
                - Vandorsselaer, Thibault, La BD dans la ville, ed. Versant Sud, 2007)