sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

Lançada edição a cores de "Tintin no país dos Soviéticos"

(montagem com a fotografia de Hergé quando criou Tintin e as capas da actual edição a cores e da primeira edição a preto e branco de "Tintin no país dos Soviéticos)


Acaba de ser lançado em Bruxelas a edição colorida de “Tintin no país dos soviéticos”, a primeira aventura de Tintin.

Escrito sobre a influência fortemente anti-comunista que se vivia nos meios católicos belgas de então, este álbum foi proscrito pelo próprio Hergé que sempre se recusou reedita-lo em vida, até porque o jornal onde a  história foi publicada, o Jornal católico Le Vingtième Siècle, acabou a colaborar com o ocupante nazi, situação que, por arrasto, custaria acusações de colaboracionismo a Hergé, a seguir à guerra, situação apenas ultrapassada graças ao apoio de amigos com Edgar Pierra Jacobs e à fundação do jornal TINTIN em 1946 (ver AQUI).

Sobre a polémica política gerada pelo conteúdo desse álbum, será curioso ler AQUI o artigo do jornal conservador francês Le Figaro.
Hoje o álbum, que já tinha sido editado a preto e branco depois da morte de Hergé, é uma curiosidade “arqueológica” sobre as origens de TinTin e da chamada “linha clara”.

Aliás, a colorização daquela história publicada originalmente a preto e branco está a gerar um debate entre os defensores da versão original de da nova versão colorida, que pode ser lida AQUI   e AQUI (ver também AQUI a reportagem do Liberation sobre o evento).
O jornalista da  TSF João Francisco Ribeiro foi ao museu da Banda Desenhada na cidade natal de Tintin, em Bruxelas, onde o livro já está à venda e o resultado é a reportagem divulgada naquela rádio e publicada no site  da TSF, a qual transcrevemos em baixo:

 
"Tintin: Primeiro livro lançado em versão colorida

Por João Francisco Ribeiro
inTSF 11 de JANEIRO de 2017
"Chegou hoje às livrarias a versão a cores do primeiro livro de Hergé. Tintin no País dos Sovietes foi editado, pela primeira vez, em 1929. Ao contrário do que fez com todas as obras que desenhou a seguir, traço a preto e branco, neste livro, nunca viria a ser alterado, até hoje.

"A empresa Moulinsart, que administra os direitos de exploração da obra do desenhador belga, coloca hoje nas prateleiras das livrarias uma edição totalmente colorida.
"A belga Carine Schmitz, apaixonada pela banda desenhada e que há 27 anos se dedica à coordenação do museu, descreve Tintin no país dos sovietes como um livro encantador, até pelas suas imperfeições.

"Este é o primeiro livro de toda [a série] Tintin. Vemos bem que não o mesmo traço de Hergé quando chegou ao décimo álbum. Já não desenhava da mesma maneira. Mas, aqui, ele tinha apenas 21 anos. É a primeira banda desenhada dele. É normal que tenha defeitos", nota a diretora do museu.
E"m Tintin no país dos sovietes, encontramos por exemplo bananas em Moscovo, postos de combustível da Shell na Rússia e algumas personagens têm nomes com origem na Polónia. Nada disto existia na Rússia de 1929. Mas, é isso "que lhe dá o charme, ao vermos que ele era tão jovem quando fez o primeiro livro", nota Carine Schmitz.

"Aos 21 anos, Hergé inaugurou um novo estilo que, a partir daí, marcaria a banda desenhada. Os traços fortes, sem sombreados, pouco contraste são "o princípio do que chamamos a linha clara".
"Na verdade, em Tintin no país dos sovietes, o mais interessante é o movimento e a forma como ele faz mexer as personagens, as perseguições de carro, Milu que já tem imensa graça. Francamente é o início de uma grande aventura de Tintin", afirma.

"No início da história, Tintin é enviado de Bruxelas em reportagem para Moscovo. Por sabotagem dos serviços secretos russos, uma bomba destrói o comboio, durante a passagem pela Alemanha. Tintin é detido sob acusação de atentado terrorista. Algumas semelhanças com a atualidade poderiam levar a pensar que é um livro recente. Mas, Schmitz considera que se trata de um livro confinado no seu tempo e "Tintin no país dos sovietes já não tem atualidade".
Hergé escreveu sob as orientações da direção do Jornal católico, conservador, anti-comunista, Le Vingtième Siècle. A história da investigação ficcionada, do repórter imaginário, que se tornou num dos principais heróis da banda desenhada, foi publicada semanalmente, em capítulos, entre 1929 e 1930, como um instrumento de propaganda anti-soviética.

"Misturadas com as peripécias do repórter, ao longo das 140 páginas, encontram-se as conclusões da investigação, do enviado à Rússia, por exemplo, quando descobre a forma como o regime soviético iludia o povo sobre o Paraíso Vermelho.

"Hergé escreveu a história sem nunca ter estado na Rússia, com base nos escritos do consul belga, em Moscovo, naquela época. Isso mesmo nota-se quando Tintin descobre que os bolcheviques ameaçavam o povo para conseguirem a vitória nas eleições. É uma transcrição quase integral dos relatos do cônsul que viveu nove anos em Moscovo.
Numa das passagens o repórter vai parar a um esconderijo, cheio das riquezas supostamente roubadas ao povo por Lenin, Trotsky e Stalin. Tintin consegue escapar daqui com a ajuda do companheiro inseparável, o cão Milu.

"O repórter imaginário ficou conhecido, ao longo de mais de duas dezenas de alguns que se seguiriam, pelo andar ligeiramente curvado, as pernas fletidas e pela madeixa de cabelo levantado. Mas, não é exatamente esta a figura apresentada nas primeiras vinhetas do livro. Esta imagem de marca do repórter é lhe atribuída mais adiante na história.
"É durante uma perseguição de carro que os cabelos dele ficam para trás e o Hergé continuou a desenhar-lo desse maneira. É em Tintin no país dos sovietes que Tintin fica com a sua pequena madeixa", lembra a diretora do museu.

"Carine Schmitz acredita que a reedição colorida vai ser um sucesso, relançando as vendas das Aventuras de Tintin. "O facto de se fazer Tintin no país dos sovietes [em edição] colorida, aqui no museu da Banda Desenhada, [acredito] que as pessoas que são amantes da Banda Desenhada possam descobrir, ao mesmo tempo, o livro a preto e branco", afirma.
"Schmitz acredita que a paixão dos mais novos com o Tintin ainda é como dantes e, aos 88 anos, o famoso repórter belga ainda encanta os jovens de hoje. E, isso nota-se nas vendas.

"Aqui, pelo que vemos, continua ainda a ser o melhor. O Tintin e os Estrunfes são os "Bestsellers". É importante saber que estamos no museu da Banda Desenhada. E, muitas das pessoas que aqui veem querem os clássicos. O Tintin mantém-se como a nossa melhor venda", garante”."

Excertos da edição original da primeira aventura de Tintin:
 







 

Edições "piratas", coloridas, de Tintin no País dos Soviéticos:





Excertos da actual edição a cores:





Um estudo sobre o álbum:
 

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