segunda-feira, 24 de novembro de 2025

GUERNICA de Bruno Loth e Corentin Loth


Descobri este interessante álbum ao percorrer as bancas de edições BD no último Festival da Amadora, no caso a banca da CULT, uma livraria e distribuidora de BD, com loja e sede na zona de Alvalade.

O Álbum foi editado já há algum tempo, em 2019, no chamado formato italiano, pela editora Ponent Mon.




O seu autor é o francês Bruno Loth, aqui assessorado pelo seu filho Corentin Loth, responsável pelo tratamento das cores.

Pessoalmente desconhecia a obra e a personalidade do autor, nascido em França em 1960 mas já com uma vasta obra editada em espanhol e em francês.

Que eu saiba, não tem nenhuma obra editada em Portugal. Em português apenas no Brasil, exactamente a obra que aqui destacamos.

Bruno Loth nasceu em 26 de Maio de 1960, na cidade francesa de Talence, próxima de Bordéus e vizinha de Villenave d’Ornon, cidade geminada com Torres Vedras.


Antes de se dedicar em exclusivo à BD, trabalhou como ilustrador publicitário. Profissionalizou-se como autor de BD em 2006, com a edição da sua obra em seis volumes, “Ermo” (2006-2013), onde, através da vida de um adolescente e outros personagens fictícios, aborda a época entre a guerra civil espanhola e o início da ocupação francesa pelos nazis, baseando-se nas memórias do seu pai, um basco refugiado dessa guerra civil e que se instalou na região de Bordéus.



Com essa obra lançou-se igualmente na aventura editorial, criando a sua própria editora, Libres d’ Images.

A Guerra Civil de Espanha tem sido um dos temas decorrentes da sua já vasta obra.

Editou depois "Mémoires d’un ouvrier: Avant guerre et sous l’Occupation" (entre 2010 e 2014, com edição integral em 2016), baseando-se na vida do seu pai nos anos 30 e 40 do século passado,  "Dolorès" (2016), obra que evoca a retirada e o exílio dos republicanos em França, a referida "Guernica" (2019) e "Viva l’anarchie!: La reencontre de Makhno et Durutti" (2020), cruzando o encontro entre o líder anarquista espanhol Buanaventura Durutti e o revolucionário ucraniano Nestor Makhno, que combateu os russos no seu país em 1917, todas estas obras na  editora francesa Boîte à Bulles.


Mais recentemente o autor alterou a sua temática nas obras mais recentes, publicadas pela editions Delcourt  :  "Le comte de Monte-Christo", obra em dois volumes (2023-2024) com Millet, inspirada na obra de Alexandre Dumas;  e "Fabrique des Insurgées", deste ano de 2025, obra inspirada na primeira greve de operárias de 1869.




O álbum Guernica, em 70 páginas,  cruza a história ficcionada, mas baseada em factos reais, de alguns habitantes da cidade mártire, bombardeada nesse dia 26 de Abril de 1937, acontecimentoque marcou a história da humanidade para sempre, o primeiro bombardeamento em solo europeu contra populações civis indefesas, com a história da construção criativa do famoso quadro de Picasso, apresentado pela  primeira vez na exposição internacional de Paris desse ano, em 4 de Junho.






Um Picasso sem inspiração para a encomenda que o governo republicano lhe tinha feito, para representar a Espanha republicana no pavilhão desse país naquela exposição internacional, por influência da sua musa de então, a fotógrafa Dora Maar, e pelo visionamento de um filme sobre o bombardeamento daquela cidade mártir, acaba por reencontrar inspiração e criar o célebre quadro Guernica, que se tornou um símbolo da denuncia contra os crimes de guerra. A construção dessa obra foi documentada, como também  se refere o álbum de Loth, pela fotógrafa Dora Maar.

A “história” das figuras que inspiraram e ilustraram a obra de Picasso é ficcionada nesta obra de Banda Desenhada, como a criança  morta nos braços da mãe ou o cavalo desfeito pelo bombardeamento.

A edição espanhola inclui um dossier fotográfico e documental com o depoimento de um dos sobreviventes daquele acto criminoso, Luis Iriondo, o último ainda vivo que o autor encontro, e cujo testemunho foi fundamental para a construção deste álbum, bem como a mensagem dos sobreviventes por ocasião da visita a Guarnica, em 1997, do então presidente da Alemanha , Roman Herzog, bem como o pedido formal de desculpas que este apresentou na ocasião do 60º aniversário do bombardeamento.

A “linha clara”, que marca o estilo do autor, bem como a sobriedade das cores, realça a dimensão da tragédia vivida pela população  de cinco mil habitantes de Guernica (Guernika em basco), bem representada pelos retratos individuais traçados pelo autor, que realçam a dimensão da tragédia humana vivida pelos habitante dessa mítica localidade basca.

Uma obra a merecer a atenção do cada vez mais dinâmico sector editorial de 9º arte em Portugal.

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