A Fundação Calouste Gulbenkian, em colaboração com o Museu Hergé de Louvain-la-Neuve, da Bélgica, organizou um dos maiores eventos do ano, uma grande exposição dedicada à obra de Hergé, criador do famoso Tintin.
A exposição, inaugurada no passado dia 1 de Outubro, e
podendo ser visitada até 10 de Janeiro do próximo ano, é, senão a maior, uma
das mais completas exposições, a nível mundial, de entre as dedicadas àquele
famoso autor da 9ª arte.
Não deixa de ser marcante que uma das mais sérias e
prestigiadas instituições ligadas ao mundo da arte receba, julgamos que pela
primeira vez na sua longa história, uma exposição de Banda Desenhada, arte
muito desvalorizada no sofisticado mundo da arte.
A iniciativa da Gulbenkian representa, assim, uma importante
ruptura com um preconceito, ainda muito arreigado entre o nosso sector
intelectual e cultural, que tende a desvalorizar as qualidades artísticas e
intelectuais da 9ª arte.
Ao Longo de das próxima semanas aqui iremos publicar uma
série de artigos sobre a importância de Hergé, desde a importância na minha
memória pessoal, à sua presença em Portugal e ao conjunto da sua Obra.
TinTin e Eu
Tintin é uma das raras personagens da BD cuja fama
atravessou várias gerações ao longo de quase cem ano, êxito e conhecimento
talvez ultrapassado pelo universo de Walt Disney.
Pessoalmente, o meu primeiro contacto com Hergé fez-se, não
pelas aventuras de Tintin, mas de outra das séries da sua autoria, quase
esquecidas pelo êxito do célebre “repórter”, os trapalhões Quick e Flupke, traduzidos
para português como o Quim e o Filipe, cujas tropelias foram publicadas em
Portugal na revista Diabrete, entre 1941 e 1943, sob a designação de “Tropelias
do Trovão e do Relâmpago , e que eu
descobri no espólio da minha mãe, que possui 4 albuns encadernados dessa
revista, que eu desfolhei avidamente durante a
minha infância.
Encontrei as primeiras imagens do Tintin num número solto do
suplemento Pajem, da revista Cavaleiro Andante, onde se publicou a aventura “O
templo do Sol”, a mesma aventura que acompanhei de forma mais continuada na
revista Foguetão, editada em 1961, cujos 13 exemplares publicado cheguei a
receber, quando tinha os meus 5 anos, mas cuja aventura nunca se completou
nessa revista de curta duração.
Ainda antes de começar a conhecer as aventuras completas de
TinTin, conheci as aventuras de uma outra série de Hergé, Jo, Zette e Jocko,
publicada noutra das minhas revistas de infância, o “magazine para a juventude”
Zorro, série publicada entre 1964 e 1966 nesta revista, exactamente nos anos em
que ela me foi oferecida.
Só mais para meados dos anos 60 comecei a ler histórias
completas do TinTin, umas em álbuns, de edição brasileira, que me eram
emprestados pelo amigo “Zico”, lidos avidamente nas tardes de Verão na praia de
Santa Cruz e, pouco depois, quando, a partir de 1969, o meu avô me começou a
oferecer, semanalmente, a revista
TinTin, fundada em Portugal em 1968.
Lembro-me, igualmente, de ter recebido o meu primeiro álbum
de TinTin por essa altura, em 1968 ou 1969, o “Voo 715 para Sidney”, que me foi
oferecido na 1ª edição em francês, com o objectivo pedagógico de aprofundar o
meu francês, álbum editado em 1968 e hoje muito valorizado no mercado franco-belga.
Nesses anos pensava que as aventuras de TinTin eram
recentes, só mais tarde descobrindo que a série tinha sido criada quase 30 anos
antes de eu nascer. Também não tive a noção, na altura, da ordem cronológica
dessas aventuras.
Penso que a, entre as primeiras aventuras que li de TinTin,
estiveram o “TinTin no Tibet” e o “Caso Tornesol”, esta última aventura,
curiosamente, editada em álbum em França no ano do meu nascimento.
Se me perguntarem quais as aventuras de que mais gostei, a
escolha é difícil, mas penso que o “Objectivo Lua” e “TinTin na Lua” foram
marcantes, pela actualidade do tema na década de 60, embora ambos tenham sido
escritos e desenhada na década de 1950, ainda antes do meu nascimento. Pela originalidade,
penso que a melhor história da série tenha sido, quanto a mim, “As Jóias de
Castafiore”, original de 1963.
Pessoalmente, sempre preferi as séries Blake e Mortimer e
Astérix, pois considerava TinTin um personagem muito certinho. Penso que o
interesse da TinTin está mais relacionada com a profundidade psicológica de
personagens “secundárias”, como o Capitão Hadock, o meu preferido, ou o
professor Tournesol, entre tantas outras, e, muitas vezes, foram os pequenos
apontamentos humorísticos, colocados por Hergé no meio da história principal,
que mais as valorizaram.
No total foram criadas por Hergé 24 aventuras de TinTin, a
última delas incompleta e a primeira, “Tintin no País dos Sovietes”, a única
que nunca foi revista e colorida pelo autor, renegada por Hergé que só
autorizou a sua edição, como curiosidade, à beira da morte.
Mas sobre a sua obra, voltaremos a falar em próximos textos
(Continua)
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