sexta-feira, 8 de outubro de 2021

Hergé, “TinTin por TinTin” - 1ª parte - "TinTin e eu!"


A Fundação Calouste Gulbenkian, em colaboração com o Museu Hergé de Louvain-la-Neuve, da Bélgica, organizou um dos maiores eventos do ano, uma grande exposição dedicada à obra de Hergé, criador do famoso Tintin.

A exposição, inaugurada no passado dia 1 de Outubro, e podendo ser visitada até 10 de Janeiro do próximo ano, é, senão a maior, uma das mais completas exposições, a nível mundial, de entre as dedicadas àquele famoso autor da 9ª arte.

Não deixa de ser marcante que uma das mais sérias e prestigiadas instituições ligadas ao mundo da arte receba, julgamos que pela primeira vez na sua longa história, uma exposição de Banda Desenhada, arte muito desvalorizada no sofisticado mundo da arte.

A iniciativa da Gulbenkian representa, assim, uma importante ruptura com um preconceito, ainda muito arreigado entre o nosso sector intelectual e cultural, que tende a desvalorizar as qualidades artísticas e intelectuais da 9ª arte.

Ao Longo de das próxima semanas aqui iremos publicar uma série de artigos sobre a importância de Hergé, desde a importância na minha memória pessoal, à sua presença em Portugal e ao conjunto da sua Obra.



TinTin e Eu

Tintin é uma das raras personagens da BD cuja fama atravessou várias gerações ao longo de quase cem ano, êxito e conhecimento talvez ultrapassado pelo universo de Walt Disney.

Pessoalmente, o meu primeiro contacto com Hergé fez-se, não pelas aventuras de Tintin, mas de outra das séries da sua autoria, quase esquecidas pelo êxito do célebre “repórter”, os trapalhões Quick e Flupke, traduzidos para português como o Quim e o Filipe, cujas tropelias foram publicadas em Portugal na revista Diabrete, entre 1941 e 1943, sob a designação de “Tropelias do Trovão e do Relâmpago ,  e que eu descobri no espólio da minha mãe, que possui 4 albuns encadernados dessa revista, que eu desfolhei avidamente durante a  minha infância.

Encontrei as primeiras imagens do Tintin num número solto do suplemento Pajem, da revista Cavaleiro Andante, onde se publicou a aventura “O templo do Sol”, a mesma aventura que acompanhei de forma mais continuada na revista Foguetão, editada em 1961, cujos 13 exemplares publicado cheguei a receber, quando tinha os meus 5 anos, mas cuja aventura nunca se completou nessa revista de curta duração.

Ainda antes de começar a conhecer as aventuras completas de TinTin, conheci as aventuras de uma outra série de Hergé, Jo, Zette e Jocko, publicada noutra das minhas revistas de infância, o “magazine para a juventude” Zorro, série publicada entre 1964 e 1966 nesta revista, exactamente nos anos em que ela me foi oferecida.

Só mais para meados dos anos 60 comecei a ler histórias completas do TinTin, umas em álbuns, de edição brasileira, que me eram emprestados pelo amigo “Zico”, lidos avidamente nas tardes de Verão na praia de Santa Cruz e, pouco depois, quando, a partir de 1969, o meu avô me começou a oferecer, semanalmente,  a revista TinTin, fundada em Portugal em 1968.

Lembro-me, igualmente, de ter recebido o meu primeiro álbum de TinTin por essa altura, em 1968 ou 1969, o “Voo 715 para Sidney”, que me foi oferecido na 1ª edição em francês, com o objectivo pedagógico de aprofundar o meu francês, álbum editado em 1968 e hoje muito valorizado no mercado franco-belga.

Nesses anos pensava que as aventuras de TinTin eram recentes, só mais tarde descobrindo que a série tinha sido criada quase 30 anos antes de eu nascer. Também não tive a noção, na altura, da ordem cronológica dessas aventuras.

Penso que a, entre as primeiras aventuras que li de TinTin, estiveram o “TinTin no Tibet” e o “Caso Tornesol”, esta última aventura, curiosamente, editada em álbum em França no ano do meu nascimento.

Se me perguntarem quais as aventuras de que mais gostei, a escolha é difícil, mas penso que o “Objectivo Lua” e “TinTin na Lua” foram marcantes, pela actualidade do tema na década de 60, embora ambos tenham sido escritos e desenhada na década de 1950, ainda antes do meu nascimento. Pela originalidade, penso que a melhor história da série tenha sido, quanto a mim, “As Jóias de Castafiore”, original de 1963.

Pessoalmente, sempre preferi as séries Blake e Mortimer e Astérix, pois considerava TinTin um personagem muito certinho. Penso que o interesse da TinTin está mais relacionada com a profundidade psicológica de personagens “secundárias”, como o Capitão Hadock, o meu preferido, ou o professor Tournesol, entre tantas outras, e, muitas vezes, foram os pequenos apontamentos humorísticos, colocados por Hergé no meio da história principal, que mais as valorizaram.

No total foram criadas por Hergé 24 aventuras de TinTin, a última delas incompleta e a primeira, “Tintin no País dos Sovietes”, a única que nunca foi revista e colorida pelo autor, renegada por Hergé que só autorizou a sua edição, como curiosidade, à beira da morte.

Mas sobre a sua obra, voltaremos a falar em próximos textos

(Continua)


Sem comentários:

Enviar um comentário