segunda-feira, 1 de novembro de 2021

Hergé, "TinTin Por TinTin" - 3ª parte...para além de TinTin!


Hergé nasceu com o nome de Geoges Remi,  em Etterbeek, na região de Bruxelas, em 22 de Maio de 1907.

Teve um único irmão, Paul, cinco anos mais novo.

Os seus primeiros desenhos foram feitos nos cadernos escolares da escola de Ixelles que ele frequentou entre 1914 e 1918.

Frequentou depois o equivalente ao liceu, sendo um bom aluno em quase todas as disciplinas, menos….em desenho!

Em 1921, com 14 anos, aderiu ao movimento escutista e, no ano seguinte começou a colaborar no jornal dos escuteiros da sua escola, o “jamais assez”, bem como na revista da Federação de Escuteiros, “Le boy-scout belge”, publicando aqui as suas primeiras ilustrações.

Assina pela primeira vez um trabalho nessa revista, com o seu nome original, em Fevereiro de 1924.

O pseudónimo   Hergé, que o imortalizou,  com origem nas iniciais invertidas do seu nome verdadeiro, Her para o R de Remi, e Gé, para o G de Georges, surgiu pela primeira vez nessa publicação em Dezembro de 1924.Criou para esta revista, em Julho de 1926, a sua primeira personagem, o escuteiro Totor.

A série, designada como “Totor, Chef de Patrouille des Hannetons” foi publicada, irregularmente, naquela publicação, até Julho de 1929. Curiosamente Totor fez uma breve aparição entre Fevereiro e Julho de 1930, desenhada por “Evany”, tendo sido, assim, a única série crida por Hergé que foi retomada por outro desenhador.



As suas influências têm origem nos heróis da sua infância e juventude, as série norte-americanas Buter Brown , The Yellow Kids, Katzenjammer Kids (Pim Pam Poum),  Krazy Kat e Bringing-up Father, ou nas séries francófonas de Benjamin Rabier, em Bécassine, Pieds Nickelés ou Zig e Puce, de Alain Saint-Ogan.

Em 1923 inicia-se na ilustração publicitária, acreditando que essa podia ser o seu futuro profissional, mas em 1924 consegue emprego no jornal diário “Le Vigtiéme Siécle”, como responsável pelo serviço de assinaturas e depois como aprendiz de fotógrafo, ilustrador e fotogravador. O padre Norbert Wallez, que dirigia esse diário, cedo se apercebe das qualidades de Hergé e nomeia-o redactor principal do suplemento infantil desse diário, “Le Petit Vingtiéme”, publicado às 5ªs feiras, cujo primeiro número apareceu em 1 de Novembro de 1928.

Entre novembro de 1928 e Março de 1929 publica a única aventura da série “Flup, Nenesse, Poussette et Cochonnett”, a primeira da sua autoria nesse suplemento, três crianças e um porquinho, com argumento de um redactor desportivo do jornal, mas que Hergé não assinará.

Considerando essa série insipida, abandona-a e retoma, neste suplemento, em 1929, o seu Totor, mas mudando-lhe o nome e fazendo-o acompanhar por um cão Milou. Nascia assim TinTin, cuja figura ainda se assemelhava à figura do escuteiro Totor.

Segundo Hergé, TinTin era “um irmão mais pequeno de Totor, um Totor transformado em jornalista, mas mantendo o espírito escutista” (entrevista a Numa Sadoul).

Mas, sobre a personagem que o imortalizou e a sua evolução, falaremos noutro artigo.

Aliás, inicialmente, Hergé não se fixará em exclusivo a Tintin, criando outras séries para essa publicação

Em 1931 publica uma única história de Fred et Mille, que será percursor de outra série sua que se tornará famosa, Quick et Flupke.


Criada em 23 de Janeiro de 1930, a série Quick et Flupke será quase tão famosa como TinTin, a única, de entre as muitas criadas poe Hergé, de longa duração.

Os “enfants terribles” Quick e Flupke terão sido inspiradas em séries que fizeram a delícia da infância de Hergé, como os Katzenjammer Kids criados por Wilhelm Busch em 1865, ou Hans e Fritz série crida em 1911 por Rudolph Dirks.

Ao todo são publicadas 165 episódios dessa série, com duas páginas cada uma,  no “petit-vingttième”.

Mais tarde, a série conheceria um grande sucesso ao ser reeditada em álbum a partir de 1947, bem como na revista “TinTin”, onde serão publicadas algumas dezenas de episódios novos ou inéditos.

Baseando-se no seu herói de infância, o desenhador animalista Benjamin Rabier (que em 1924 ilustrou o “Romance da Raposa” de Aquilino Ribeiro, e sobre o qual se realizou recentemente uma exposição em Portugal, no Museu Bordalo Pinheiro- Ver AQUI) cria um herói antropomórfico, Tim, o esquilo “herói do Faroeste”, num total de 32 páginas coloridas, sem balões e com as clássicas  legendas por baixo (com já tinha acontecido com a sua primeira personagem, o escuteiro Totor), publicadas em 2 páginas semanais, como suplemento publicitário a uma loja de Bruxelas, saindo às 5ªas feiras, entre 17 de Setembro e 31 de Dezembro de 1931.

Essa série foi o esboço de outras duas séries, “Les Aventures de Tom e Mille” (1933) e “Popol et Virgine Chez Lapin” (1934).

Esta última série teve curta vida nas páginas do “Petit Vingtième”, entre 8 de Feverreiro e 16 de Agosto de 1934, reaparecendo mais tarde na revista “TinTin” entre 29 de Abril e 29 de Julho de 1948.

Popol e Virgine são dois ursos, representando mais uma rara incursão de Hergé no mundo animalista, que ele tanto apreciava na sua infância. A criação desta série obedeceu a uma tentativa de Hergé de romper com o realismo de “TinTin”. Contudo esta série não obteve o entusiasmo dos leitores, que escreveram várias cartas à redacção do jornal para exigir o regresso de TinTin, acabando assim com a continuação daquela série.

Paralelamente à sua colaboração com o “Le Petit Vingtiéme”, Hergé trabalha noutras publicações, como , em 1928, no semanário satirico e panfletária “Le Sifflet”, que se editou entre 1928 e 1931.

Esta foi uma época em que criou várias séries com fins publicitários, como as tirinhas “Cet Aimable M. Mops” (1932).

 Para o folheto “Pim- Vie Heureus” do suplemento juvenil “Pim et Pom” do jornal “Le Meuse”, cria “Les Aventures de Tom et Mille”, 2 episódios curtos baseados nas aventuras do já referido esquilo Tim, mas tendo, desta vez, como personagens, 2 ursos. Para esta série usa o pseudónimo R.G.. A 1ª história, de 2 páginas, a preto e branco, é publicada em 7 de Fevereiro de 1933 e a segunda aventura, de 18 páginas, intitulada “Tom e Mille à le recherche du soleil” em 11 de Abril desse mesmo ano.  

Em 1934 Hergé, criou o Atelier Hergé-Publicité, com o objectivo de criar peças publicitárias, tendo elaborado várias bandas desenhadas  publicitárias, logo nesse ano uma em 4 páginas intitulada “Les Mésaventures de Jeff Debakker” e, em 1938, uma série de histórias curtas, para a confeitaria “Antoine”, tendo como personagens “Antoinne, Antoinette, Plouf e Drapsy”, 2 irmãos, um cão e um papagaio, num total de 6 episódios de uma página cada.

A criação dessas personagens publicitárias é vista por muitos estudiosos como percursora da série “Jo, Zette e Jocko” que foi publicada na revista francesa “Coeurs Vaillant”, entre 22 de Outubro de 1936 e 9 de Novembro de 1939, traduzida em Portugal como “Joana, João e o Macaco Simão”. Esta série foi uma encomenda dessa revista ao autor:

“A direcção do jornal [Coeurs Vaillant] disse-me mais ou menos o seguinte: Sabe, o seu “TinTin” não está mal, gostamos muito dele. Mas não tem modo de vida, nem país, não come nem dorme, isto não é lógico. Não pode criar uma personagem cujo pai trabalhe, que viva com a mãe, a irmãzinha e qualquer animalzinho familiar?”. E foi assim que essa série surgiu.

Dela publicaram-se três aventuras, “le Rayon du mystère” (dividido em dois episódios, “Le testament de M. Pump” e “Destination New-York”), publicada no Coeurs Vaillant entre 22 de Outubro de 1936 e 9 de Novembro de 1938,   “Le Stratoneff H22” (igualmente dividido em 2 episódios, “Le Manitoba ne répond plus” e “L’Eruption du Karamako”), publicada na mesma revista entre 31 de Março de 1938 e 9 de Novembro de 1939,  e “La Vallée des Cobras”, esta publicada apenas entre 30 de Dezembro de 1953 e 22 de Dezembro de 1954, já na revista TinTin.


Na década de 60, num período de alguma crise pessoal, entre 1960 e 1964, Hergé pensa enveredar pela pintura, chegando a criar algumas obras inspiradas em Miró e Dubuffett, mas acaba por desistir, optando por continuar como autor de Banda Desenhada, apesar de se ter tornado um conceituado e informado colecionador de arte, tendo conhecido Andy Warholl que, em 1979, pintou 4 imagens de Hergé no seu estilo peculiar de pop-art.



A partir dos anos 40 e até à sua morte, apenas com a breve deriva acima referida, o autor dedicou-se, em exclusividade à sua icónica série TinTin.

Sobre Tintin, o herói que imortalizou Hergé, falaremos do próximo artigo.

(Continua)

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