Hergé nasceu com o nome de Geoges Remi, em Etterbeek, na região de Bruxelas, em 22 de Maio de 1907.
Teve um único irmão, Paul, cinco anos mais novo.
Os seus primeiros desenhos foram feitos nos cadernos
escolares da escola de Ixelles que ele frequentou entre 1914 e 1918.
Frequentou depois o equivalente ao liceu, sendo um bom aluno em quase todas as disciplinas, menos….em desenho!
Em 1921, com 14 anos, aderiu ao movimento escutista e, no
ano seguinte começou a colaborar no jornal dos escuteiros da sua escola, o
“jamais assez”, bem como na revista da Federação de Escuteiros, “Le boy-scout
belge”, publicando aqui as suas primeiras ilustrações.
Assina pela primeira vez um trabalho nessa revista, com o
seu nome original, em Fevereiro de 1924.
A série, designada como “Totor, Chef de Patrouille des
Hannetons” foi publicada, irregularmente, naquela publicação, até Julho de 1929.
Curiosamente Totor fez uma breve aparição entre Fevereiro e Julho de 1930,
desenhada por “Evany”, tendo sido, assim, a única série crida por Hergé que foi
retomada por outro desenhador.
Em 1923 inicia-se na ilustração publicitária, acreditando
que essa podia ser o seu futuro profissional, mas em 1924 consegue emprego no
jornal diário “Le Vigtiéme Siécle”, como responsável pelo serviço de
assinaturas e depois como aprendiz de fotógrafo, ilustrador e fotogravador. O
padre Norbert Wallez, que dirigia esse diário, cedo se apercebe das qualidades
de Hergé e nomeia-o redactor principal do suplemento infantil desse diário, “Le
Petit Vingtiéme”, publicado às 5ªs feiras, cujo primeiro número apareceu em 1
de Novembro de 1928.
Entre novembro de 1928 e Março de 1929 publica a única
aventura da série “Flup, Nenesse, Poussette et Cochonnett”, a primeira da sua
autoria nesse suplemento, três crianças e um porquinho, com argumento de um
redactor desportivo do jornal, mas que Hergé não assinará.
Segundo Hergé, TinTin era “um irmão mais pequeno de Totor,
um Totor transformado em jornalista, mas mantendo o espírito escutista”
(entrevista a Numa Sadoul).
Mas, sobre a personagem que o imortalizou e a sua evolução,
falaremos noutro artigo.
Aliás, inicialmente, Hergé não se fixará em exclusivo a
Tintin, criando outras séries para essa publicação
Em 1931 publica uma única história de Fred et Mille, que
será percursor de outra série sua que se tornará famosa, Quick et Flupke.
Os “enfants terribles” Quick e Flupke terão sido inspiradas
em séries que fizeram a delícia da infância de Hergé, como os Katzenjammer Kids
criados por Wilhelm Busch em 1865, ou Hans e Fritz série crida em 1911 por
Rudolph Dirks.
Ao todo são publicadas 165 episódios dessa série, com duas
páginas cada uma, no “petit-vingttième”.
Mais tarde, a série conheceria um grande sucesso ao ser
reeditada em álbum a partir de 1947, bem como na revista “TinTin”, onde serão
publicadas algumas dezenas de episódios novos ou inéditos.
Baseando-se no seu herói de infância, o desenhador
animalista Benjamin Rabier (que em 1924 ilustrou o “Romance da Raposa” de
Aquilino Ribeiro, e sobre o qual se realizou recentemente uma exposição em
Portugal, no Museu Bordalo Pinheiro- Ver AQUI) cria um herói antropomórfico, Tim, o
esquilo “herói do Faroeste”, num total de 32 páginas coloridas, sem balões e
com as clássicas legendas por baixo (com
já tinha acontecido com a sua primeira personagem, o escuteiro Totor),
publicadas em 2 páginas semanais, como suplemento publicitário a uma loja de
Bruxelas, saindo às 5ªas feiras, entre 17 de Setembro e 31 de Dezembro de 1931.
Essa série foi o esboço de outras duas séries, “Les
Aventures de Tom e Mille” (1933) e “Popol et Virgine Chez Lapin” (1934).
Popol e Virgine são dois ursos, representando mais uma rara
incursão de Hergé no mundo animalista, que ele tanto apreciava na sua infância.
A criação desta série obedeceu a uma tentativa de Hergé de romper com o
realismo de “TinTin”. Contudo esta série não obteve o entusiasmo dos leitores,
que escreveram várias cartas à redacção do jornal para exigir o regresso de
TinTin, acabando assim com a continuação daquela série.
Paralelamente à sua colaboração com o “Le Petit Vingtiéme”,
Hergé trabalha noutras publicações, como , em 1928, no semanário satirico e
panfletária “Le Sifflet”, que se editou entre 1928 e 1931.
Esta foi uma época em que criou várias séries com fins
publicitários, como as tirinhas “Cet Aimable M. Mops” (1932).
Para o folheto “Pim-
Vie Heureus” do suplemento juvenil “Pim et Pom” do jornal “Le Meuse”, cria “Les
Aventures de Tom et Mille”, 2 episódios curtos baseados nas aventuras do já
referido esquilo Tim, mas tendo, desta vez, como personagens, 2 ursos. Para
esta série usa o pseudónimo R.G.. A 1ª história, de 2 páginas, a preto e branco,
é publicada em 7 de Fevereiro de 1933 e a segunda aventura, de 18 páginas,
intitulada “Tom e Mille à le recherche du soleil” em 11 de Abril desse mesmo
ano.
Em 1934 Hergé, criou o Atelier Hergé-Publicité, com o objectivo de criar peças publicitárias, tendo elaborado várias bandas desenhadas publicitárias, logo nesse ano uma em 4 páginas intitulada “Les Mésaventures de Jeff Debakker” e, em 1938, uma série de histórias curtas, para a confeitaria “Antoine”, tendo como personagens “Antoinne, Antoinette, Plouf e Drapsy”, 2 irmãos, um cão e um papagaio, num total de 6 episódios de uma página cada.
“A direcção do jornal [Coeurs Vaillant] disse-me mais ou
menos o seguinte: Sabe, o seu “TinTin” não está mal, gostamos muito dele. Mas
não tem modo de vida, nem país, não come nem dorme, isto não é lógico. Não pode
criar uma personagem cujo pai trabalhe, que viva com a mãe, a irmãzinha e
qualquer animalzinho familiar?”. E foi assim que essa série surgiu.
Dela publicaram-se três aventuras, “le Rayon du mystère”
(dividido em dois episódios, “Le testament de M. Pump” e “Destination
New-York”), publicada no Coeurs Vaillant entre 22 de Outubro de 1936 e 9 de
Novembro de 1938, “Le Stratoneff H22” (igualmente dividido em 2
episódios, “Le Manitoba ne répond plus” e “L’Eruption du Karamako”), publicada
na mesma revista entre 31 de Março de 1938 e 9 de Novembro de 1939, e “La Vallée des Cobras”, esta publicada
apenas entre 30 de Dezembro de 1953 e 22 de Dezembro de 1954, já na revista
TinTin.
Sobre Tintin, o herói que imortalizou Hergé, falaremos do
próximo artigo.
(Continua)
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