Foram muitas as controvérsias geradas à volta das aventuras de Tintin, como as já referidas à volta de das duas primeiras aventuras.
Houve mesmo quem visse na relação entre Tintin e o capitão
Haddock sinais de homossexualidade.
O facto de haver poucas mulheres na série foi outro motivo
de polémica.
Defendendo-se desta acusação, Hergé afirmava que essa
situação não era por misoginia, mas porque, para ele, “a mulher nada tem a
fazer num mundo como o TinTin. É o reino da amizade viril e esta amizade nada
tem de equívoco. Claro que aparecem poucas ou nenhumas mulheres. E quando elas
surgem são monstros, como Castafiore…Se eu crio uma personagem de rapariga, ela
tem de ser bonita, caso contrário não vale a pena, e que fará ela num mundo
onde todos os indivíduos são caricaturas?...Amo demasiadamente a mulher para a
caricaturar” (entrevista a Numa Sadoul).
Ao longo do tempo surgiram várias versões ilegais da TinTin,
algumas parodiando a série, muitas de caracter mais “underground”, variando
entre o teor pornográfico, e o uso da série para propaganda política.
Talvez a mais antiga versão pirata de TinTin tenha sido uma
tira curta, intitulada “TinTin au pays des nazis”, publicada em 1944 e
satirizando o trabalho de Hergé no jornal Le Soir, controlado pelos ocupantes
nazis.
Nesta “aventura” 176 páginas TinTin vive, de forma miserável
num bairro operário londrino e participa numa violenta revolução para derrubar
o governo britânico.
Também na revista humorística norte-americana National
Lampoom surgiu um “TinTin no Líbano”, uma critica à politica de Ronald Reagan
para o médio-oriente.
Do mesmo teor político, são muitas as aventuras de
“contrafacção” envolvendo TinTin e o seu universo, como “TinTin no Iraque”, de
2003, “TinTin em El Salvador”, “TinTin dans le Golf”, “L’Énigme du 3ième
message”, uma provável referência ao terceiro segredo de Fátima, ou “Les Harpes
de Greenmore”, onde TinTin aparece como guerrilheiro do IRA.
São também muitas as obras de teor erótico-pornográfico
envolvendo TinTin e outras personagens da série.
Desse teor, as mais conhecidas e reproduzidas são “TinTin en
Suisse” e“La Vie Sexuelle de TinTin”.
Esta paródia erótica está interdita na França e na Bélgica,
mas a sua edição continua autorizada na Holanda.
Sobre este álbum foi feita, em 1983, uma paródia ao próprio
álbum, “Kuifje en de Vervalsers”
Mas é aquela “Vida Sexual de TinTin” que mais polémica tem
gerado, com edições em várias línguas e um processo judicial que, em 1992,
condenou o seu autor Jan Bucquoy.
Uma parte dessa obra imagina, em duas pranchas “mudas”, uma
relação entre TinTin e outra personagem de BD, Yoko Uno, personagem criada por
Roger Leloup, um autor de BD que trabalhou nos Estúdios Hergé.
Como seria de esperar, essa interpretação foi contestada
pela “Sociedade Moulinsart”, que detém os direitos de autor da série TinTin,
mas que acabou por perder o processo no tribunal de Rennes, que, no início
deste ano, decidiu a favor do artista bretão.
Marabout começou as suas obras, usando a figura de TinTin,
em 2014 e, em 2015, expôs algumas das suas obras na Bélgica, exposição que
motivou a reacção da “Moulinsart”, tendo o processo começado a corre em
tribunal em 2017, acabando este por decidir a favor da liberdade artística do
pintor bretão.
Além disso, a Moulinsart foi condenada a pagar uma indeminização
ao artista plástico, no valor de 10 mil euros, e a pagar as custas do processo,
no valor de 20 mil euros.
Marabout não pretende continuara a explorar a série TinTin
nas suas obras, mas gostaria de realizar parcerias idênticas às que realizou
com TinTin e Hoper, desta vez misturando o universo de Philémon de Fred, com o
de Salvador Dalí, ou o de Dragon Ball Z com o de Mark Rothko.
Bibliografia:
- “Marabout : J´’ai gagné mais j’arrête” (entrevista com o autor dos polémicos quadros de TinTin ao estilo Hooper), in Casemate nº 147 de Junho de 2021, pp.8 a 12;
- Special Hergé, Schtroumpf-Les Cahiers de La Bande Dessinée, nº14/15, Setembro/Dezembro de 1971 (inclui uma longa e célebre entrevista dada por Hergé a Numa Sadoul, publicada na revista portuguesa “TinTin”, ao longo do 6º ano da sua edição, com tradução de Vasco Granja);
- TinTin – survivra-t-il? , Haga – Revue de Bande Dessinee,
nº16-17 , Inverno de 1974;
- “La Vie Sentimentale de TinTin – Hergé contre Hoper”, in Les Cahiers de La BD, nº8, Julho/Setembro de 2019, pp.65 a 77;
Sem comentários:
Enviar um comentário